sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Sócrates e João Franco ou um diagnóstico certeiríssimo …

Em Portugal a verdade orçamental corre parelhas com a verdade eleitoral.
Em vez de verdades há apenas duas mentiras, propositadamente organizadas e propositadamente mantidas.
Às classes dirigentes não convém nem a verdade dos orçamentos nem a verdade das eleições.
As classes dirigentes «dirigem»: as dirigidas pagam o dinheiro que lhes é extorquido sob o nome de diversos impostos, ignorando a aplicação desse dinheiro.
Os factos multiplicam-se, vergonhosos, hediondos, horríveis.
A obstinação e o capricho tomam o assento nos conselhos de ministros.
As ideias que a opinião pública tem como dignas de mais breve realização ficam de lado e para sempre esquecidas.
O chefe do governo parece aceitar a doutrina de que o único meio de fugir às grandes questões é não as resolver, lançar mão de meios termos que a ninguém contentam e deixar que os problemas se gastem e morram à falta de razão de ser.
É o que se vê praticado actualmente. Nenhuma tentativa, nenhum projecto sério da parte do governo para satisfazer os mais fundos anseios da sociedade.
O povo é a fonte do poder. Dizem que cada povo tem o governo que merece. O conceito é falso. O povo português não merece o actual governo e considera-se preso de tirania cruel. É um governo que realiza o inverso do preceito de Horácio: junta o inútil ao desagradável.


Escreveu estas actualíssimas linhas o Visconde de S. Boaventura no livro «A Pasta de um Jornalista» de 1908. Isto é que é premonição. Sócrates e João Franco separados à nescença…

2 comentários:

  1. A actualidade da História é impressionante. Dispensem os cursos de Astrologia e inscrevam-se em cursos de História e verão como as previsões da realidade não são tão difíceis de fazer assim ...

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