quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Morte ao acordo ortográfico e a quem o apoiar…

Este slogan, bem ao gosto de Abril, tem cada vez mais actualidade e justificação, como podemos verificar lendo o artigo de primeira água que Vasco Graça Moura publica hoje no Diário de Notícias. Aborda a situação do país perante a crise e, enquadrado neste cenário, lembra-nos a afirmação recente do Ministro da Cultura (sim, ele existe, acreditem) a propósito do miserável acordo ortográfico. Chama a esse cavaleiro da triste figura que dá pelo nome de Pinto Ribeiro (não, bolas, já disse que não é esse que esteve na Culturgest, que é programador, professor, ensaista, conferencista; esse sabe do que fala…), chama-lhe, dizia, o cangalheiro. E é pouco. Em mais uma manifestação de evidente flatulência, o senhor resolve dizer (creio que incorrendo até numa espécie de «ilegalidade» que quer a aplicação efectiva do Acordo Ortográfico o mais tardar em 1 de Janeiro de 2010, ou mesmo antes, isto quando a lei prevê um prazo de seis anos para essa aplicação.
Não vou chorar sobre o leite derramado. Nada é irreversível excepto a morte. Espero sinceramente nos próximos anos assistir à denúncia do acordo por parte de um governo que seja minimamente conhecedor das questões da língua e não se deixe iludir por argumentos balofos, redondos, sem fundamentação real, e por outros cavaleiros de tristíssima figura, ainda que casteleiros.
São os 110 milhões de pessoas com o francês como língua mãe e os 210 milhões que o falam como segunda língua mais estúpidos e atrasados do que nós? Há um acordo ortográfico para o francês? Não. E o francês da Ile-de-France, do Quebec, do Haiti ou das Seichelles é bem diferente.
São os quase quase 400 milhões de falantes do castelhano mais estúpidos e atrasados do que nós? Há um acordo ortográfico para o castelhano? Não. Mesmo sendo a língua oficial de Argentina, Bolívia, Chile, Colômbia, Costa Rica, Cuba, Equador, El Salvador, Espanha, Guatemala, Guiné Equatorial, Honduras, México, Nicaragua, Novo México (EUA), Panamá, Paraguai, Peru, Porto Rico (EUA), República Dominicana, Uruguai e Venezuela.
São os falantes do inglês mais estúpidos e atrasados que nós? Há um acordo ortográfico para o inglês? Não. Se nos lembrarmos de alguns sites da Internet ou mesmo de alguns programas em que temos de configurar a língua, veremos, além de todos os países da «commonwealth», o inglês (GB), o inglês (USA), o inglês (CAN), o inglês (NZ), o inglês (AUSTR), o inglês (IRL), o inglês (IND), o inglês (SA), o inglês (BAH), o inglês (PHIL) e o inglês (GUI), isto para só falar naqueles em que o inglês é língua oficial. E os burros são eles? E o inglês desapareceu?
Só nós, os inteligente e desenvolvidos é que inventamos um acordo ortográfico. Que não é consensual (em Portugal é mesmo fracturante), que nos pôs (uma vez mais) de cócoras perante o Brasil, em que a maioria dos especialistas (os que são verdadeiramente especialistas e não estão senis) não crê nem se revê, e que até nem foi (e se forem espertos nem será nunca) ratificado por Angola nem por Moçambique.
Abaixo por isso os coveiros da língua portuguesa. Viva a pátria do Fernando Pessoa.

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