
No seu «Caderno de Saramago» publica textos amavelmente reproduzidos no Diário do Governo, perdão, Diário de Lisboa.
Um dos últimos, intitulado «A democracia num táxi», destilava ódios antigos contra Berlusconi, sob a capa de uma certa diminuição de Democracia por uma das suas propostas que visaria agilizar processos na Assembleia.
Depois de tiradas pseudo-irónicas de mau gosto, que tão bem assentavam a ele próprio, Saramago tem pérolas literárias como : «Os representantes dos maiores partidos, três ou quatro, digamos, reunir-se-iam num táxi a caminho de um restaurante onde, ao redor de uma boa refeição, tomariam as decisões pertinentes. Atrás de si teriam levado, mas deslocando-se em bicicleta, os representantes dos partidos menores, que comeriam ao balcão, no caso de o haver, ou numa cafetaria das imediações. Nada mais democrático. De caminho poderia mesmo começar a pensar-se em liquidar esses imponentes, arrogantes e pretensiosos edifícios denominados parlamentos e senados, fontes de contínuas discussões e de elevadas despesas que não aproveitam ao povo».
Semprepretendendo ser irónico, Saramago torna-se patético.
É que, curiosamente, não me lembro de ver Saramago ironizar com a falta de democracia representativa na sua amada Cuba. Ou na antiga União Soviética. Ou na Coreia do Norte. Não me lembro nunca de o ter visto criticar Estalie ou verberar contra a ditadura do proletariado. Nem me lembro, e isto é bem recente, de o ver criticar os desejos totalitários de Hugo Chávez, querendo eternizar-se, pelo voto «popular», na cadeira do poder.
Mas, claro, quando se é vesgo, vê-se uma coisa por um olho e outra por outro…
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